sábado, 5 de dezembro de 2009

Expresso Nevski


Irina sentia-se feliz. Tinha-se vingado daquele traficante que despedaçara a sua desgraçada vida e agora podia dar-se ao luxo de dormir em paz. Ao cometer aquele assassinato, Irina sentiu um prazer diabólico que nunca tinha experimentado. Uma mescla de sexo e morte que atormentava o seu espírito. Após aquele crime hediondo, soube escapar de forma genial. Após deixar o corpo do temível Valery, a esvair-se em sangue na cama de uma luxuosa suíte de um hotel no centro de Moscovo, voltou a colocar a cabeleira ruiva e os óculos de sol com que tinha entrado no estabelecimento. Seria impossível descortinar a sua verdadeira identidade através do circuito interno de vídeo. Mais tarde, a polícia não encontrara indícios visto que ela tinha limpo milimétricamente todas a impressões digitais que ela deixara na cena do crime.
Irina precisava de fugir de Moscovo rapidamente. Após deixar o hotel ainda pensou em marcar um encontro com Oleg, outros dos mafiosos moscovitas que a tinham explorado durante os últimos anos. No entanto, o tempo urgia e seria melhor apanhar um táxi e dirigir-se para a estação central.

Irina iria para São Petersburgo a bordo do Expresso Nevski, com o objectivo de mudar de ares e para tentar esquecer aquele maldito desejo por sangue que se ia apoderando dela. A viagem de combóio decorria tranquila e ela aproveitava para se concentrar um pouco na leitura de algumas revistas. Um pouco mais tarde, durante o jantar no vagão-restaurante, é abordada por um homem que aparentava ter cerca de cinquenta e poucos anos. Lentamente, Irina vai-se deixando seduzir por aquele homem de voz doce e que emanava charme de todos os poros. Disse chamar-se Boris Karpin e falou-lhe um pouco do trabalho que fazia ao serviço de um ministério. Tecia os mais rasgados elogios à cidade dos czares de onde era natural. Odiava o caos que se instalara na capital russa durante os últimos anos onde passava metade da semana em trabalho.
Aquela conversa acalmava Irina e fazi-a esquecer por breves momentos a vida miserável que levara durante os últimos tempos. Em dado momento e sem saber que estava diante de uma prostituta, Boris muda um pouco o rumo da conversa e passa a assediá-la de forma ostensiva. Propõe-lhe uma pequena aventura sexual numa das casas de banho do combóio. Ela limita-se a sorrir e acena positivamente com a cabeça. Levantam-se e dirigem-se para o corredor. Entram na casa de banho minúscula e começam por se beijar sôfregamente. Boris apalpava Irina e iam-se esfregando de modo quase animalesco. Ela ajoelha-se a seus pés, abre-lhe a braguilha e põe em prática os seus dotes orais que eram muito apreciados pela sua clientela moscovita. Aquela bela mulher de trinta anos aprendera rapidamente todos os segredos de alcova mais sórdidos, que lhe garantiam a sobrevivência desde que a sua mãe falecera. Boris encostara-se numa das paredes e respirava pesadamente. Subitamente ele vem-se na boca de Irina que engole o seu esperma até à última gota. Após se recompor ele deixa escapar um comentário...
- Desculpa que te diga, mas chupas como uma profissional. Fazes-me lembrar uma mulher que conheci em Moscovo há uns anos atrás. Para falar verdade, ela era bem parecida contigo e de repente até me arriscaria a dizer que podia ser tua mãe. Aliás, acho que foi isso que me fez meter conversa contigo no restaurante...

Irina ao ouvir aquela despropositada comparação, começou a tremer de nervosismo. A sua mente fez uma rápida viagem ao passado. Um retrocesso que era sempre doloroso e que de certa maneira, também tinha selado o seu destino. Recuou até à década de 80. Na época, a sua mãe era uma das meretrizes mais conceituadas no seio da elite do regime soviético. Pela sua cama passavam os mais altos quadros do Partido, altas patentes militares e mais uma infinidade de funcionários da pesada máquina estatal. De imediato, surgiu-lhe a imagem da sua mãe, sentada no colo de um importante diplomata a queixar-se de um jovem quadro da KGB, natural de São Petersburgo, que a perturbava bastante. Numa voz trémula, a sua mãe, pedia ao embaixador para que intercedesse de modo a que não tivesse que atender aquele homem que tinha comportamentos sexuais bizarros e gabava-se frequentemente dos requintes de malvadez com que levava a cabo o seu trabalho no ramo da contra-espionagem, dentro do território russo.
Como se tratava de uma estrela em ascensão dentro do serviço secreto de então, os seus superiores hierárquicos iam fechando os olhos aos excessos que cometia. A dada altura, chegara a confessar que adorava abusar de jovens adolescentes e de filmar os seus actos hediondos. Orgulhava-se de possuir um enorme acervo de gravações que partilhava com os seus amigos.
Ao voltar desta regressão ao passado, Irina sente uma fúria emergir dentro dela e surge novamente aquele demónio sanguinário que a tinha possuído durante as últimas semanas.

Boris ainda abotovava as calças quando Irina se atira vigorosamente na direcção dele. Por momentos, ele pensou que ela queria repetir a brincadeira que tinham feito naquele espaço acanhado. Esboça um sorriso trocista e comenta:
- Logo vi que eras uma grande puta! Por mim, podes chupar o quanto quiseres ...- diz, voltando a colocar o pénis meio flácido para fora das calças.
Ela inclina-se para a frente e com uma forte dentada, arranca a glande de Boris que fica sem reacção de imediato. O seu membro começa a esguichar sangue de modo abundante e antes que ele pudesse gritar, é sufocado pela mão de Irina que já tratara de cuspir o pedaço de carne na sanita. Ela aproxima a boca do ouvido da sua vítima que agonizava e sussura cruelmente...
- Nunca mais irás dar uso a essa coisa nojenta que aí tens e muito menos abusar de jovens indefesas!
Num gesto deliberadamente demorado, Irina tira do bolso uma pequena faca que trazia sempre consigo para defesa pessoal e coloca-a à vista do homem que suava abundantemente e cujos olhos reflectiam um extremo horror. Com um movimento rápido e preciso, Irina espeta-lhe a faca na jugular. Jactos de sangue inundam as paredes da casa de banho, enquanto ela tapa a boca de Boris que vai deslizando pela parede abaixo, praticamente inerte. Irina observa calmamente a sua vítima despedir-se da vida daquela maneira tenebrosa. Por instantes, ela olha para o pequeno espelho do compartimento e assusta-se com o seu próprios olhos. Sentia-se fora de si mas ao mesmo tempo terrívelmente excitada.

Aproxima-se novamente do corpo moribundo de Boris e coloca-se acima dele. Sobe a saia e agacha-se sobre o cadáver. Molha os dedos no sangue viscoso e ainda quente da sua vítima e leva-os até à vagina. Fecha os olhos e masturba-se freneticamente. Três minutos depois, vem-se abudantemente num orgasmo que a deixou completamente saciada. Antes de abandonar o local do crime, lava as mãos e o rosto no lavatório e tira o casaco que estava manchado de sangue. Ao fechar a porta da casa de banho, dá um forte pontapé na maçaneta. O frágil manípulo de alumínio quebra-se e ela agacha-se rapidamente para o recolher e esconder na mala. Faltava cerca de hora e meia para chegar ao destino final e convinha não haver alarido no combóio até ao desembarque.
Ao chegar à gare ferroviária de São Petersburgo, uma amálgama de gente movimentava-se na plataforma. No meio daquela confusão, ela avista um jovem viajante com aspecto de estrangeiro com uma enorme mochila às costas. Era alto, de pele morena e com cabelos negros revoltos. Parecia vagamente perdido e tentava orientar-se através de um guia de viagem que folheava ao acaso. Irina aproxima-se dele vagarosamente e interpela-o em inglês. O turista não resiste ao sorriso franco e aberto daquela magnífica loira de olhos azuis e, inicia de imediato um diálogo com ela. Ela oferece-se para o acompanhar até um pequeno hotel que ficava nas imediações da estação. No caminho, Irina descobre que está na companhia de Miguel, um viajante solitário que percorria a Rússia há duas semanas. Os latinos tinham fama de serem bons amantes e ela decidiu que não podia desperdiçar a oportunidade de experimentar o talento sexual daquele jovem.

Uma hora depois, estavam os dois na cama. O quarto era bastante simples e pairava um cheiro a humidade no ar. Miguel revelava-se um amante caloroso e redobrava os seus esforços para satisfazer aquela russa libidinosa que se tinha cruzado no seu caminho. No entanto, Irina sentia que apesar de todo aquele vigor do seu parceiro, ela não se sentia plenamente satisfeita. Num momento de pausa depois de mais um orgasmo de Miguel, ela levanta-se da cama, pega na sua mala e vai para a casa de banho. Fecha a porta devagar, poisa a bolsa no lavatório e encara o espelho. Vê a sua silhueta reflectida. Cabelos desgrenhados e um estranho brilho no olhar. Num movimento mecânico, retira a faca da mala e dirige-se novamente para a porta...






1 comentário:

Vontade de disse...

Um bocado macabro... mas bem excitante.