quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Primeiro Passo


Mais um encontro secreto. Tudo teve início com um singelo e-mail. Vislumbrei que existia ali um interesse em conhecer quem se escondia por detrás da máscara. Digamos que era uma personagem que me causava uma certa curiosidade pelos comentários que fazia aos meus textos com alguma regularidade.
Bastou uma semana de conversas mais intensas por via do messenger. Ela fez questão de se identificar como Lucrécia. Sabia que não era o seu nome verdadeiro mas pouco me importava, já que o meu nome verdadeiro também não é Bernardo. Afinal de contas, os nomes são apenas vocábulos que adornam a nossa vida social. Os nossos diálogos primaram desde logo pela boa disposição e sinceridade. Ela não me escondeu que era casada. No entanto, nos últimos tempos sentia-se tentada a ter uma pequena aventura extra-conjugal. Qualquer contacto teria que ser discreto e condicionado por factores de tempo e geografia. Residente na praia da Torreira, no distrito de Aveiro, costuma cumprir o ritual de um jantar mensal com ex-colegas de faculdade aqui no Porto. Tomou a iniciativa de me convidar para um café após o jantar que teria lugar daí a poucos dias.

Marcámos encontro numa quinta-feira às 21.30h, num café de uma conhecida livraria da cidade. Primei pela pontualidade e peço um café para mim. Envio-lhe uma mensagem a dar conta da minha chegada. Dois minutos mais tarde, vejo chegar uma mulher de estatura mediana, corte de cabelo curto e detentora de um corpo bem proporcionado. Faço-lhe um pequeno sinal para confirmar que era eu quem ela procurava. A sua imagem superou as minhas expectativas. Tratava-se de uma mulher bem mais apetecível do que as fotografias faziam adivinhar. Seguiu-se a habitual conversa de circunstância. Notei que estava um pouco nervosa evitava o meu olhar. De maneira algo afoita, pergunto-lhe se pretende continuar aquela conversa num local mais reservado. Responde que não estaria a pensar nisso de imediato. Propõe-me um passeio na Foz. A noite estava quente e pareceu-me uma boa ideia.
Descemos a cidade em direcção ao mar. Apesar do meu atrevimento inicial, Lucrécia não dava sinais de estar incomodada com a minha presença a seu lado. A conversa continuava a bom ritmo e sempre pontuada de boa disposição.

Sentamo-nos numa esplanada da praia. O cenário ideal para o nosso encontro secreto, tendo apenas o mar e alguns clientes esparsos que não parecia interessar-se pela conversa que se desenrolava naquela mesa iluminada a meia luz. Eu sentia que Lucrécia ia baixando a guarda gradualmente. Confessou nunca ter tido um encontro deste tipo e que até ao momento nunca tinha tido coragem transgredir as regras do matrimónio. Porém já não evitava o meu olhar e dava-se início a um clima de sedução verdadeiramente delicioso.
A dado momento, coloco-lhe a mão na perna. Precisava saber se não estaria equivocado nos meus pensamentos. Ela não reprimiu o meu gesto e mantemos a nossa conversa em surdina. Eu tinha clara noção que naquela noite não iríamos transgredir muito mais. Aquele tango envolvente embriagava-me os sentidos e Lucrécia acompanhava-me com seus passos hesitantes. Tenho plena consciência que se desenrola uma estranha dualidade de sentimentos na mente de uma mulher casada. A sedução e o erotismo não combinam com atitudes precipitadas. Acima de tudo, tratava-se de um primeiro passso para uma história que se poderá tornar muito interessante.
Aproveitava aqueles momentos de proximidade para lhe estudar em pormenor os traços do seu rosto, a sua pele alva, os seus lábios perfeitamente desenhados e aquele olhar de menina traquina.

Sinto uma súbita vontade de a beijar. Peço para sairmos dali. Caminhamos ao longo do paredão, junto ao forte. A brisa suave e morna, o mar calmo e o agradável cheiro de maresia embalavam o clima romântico em que tínhamos mergulhado.
Voltamos para o interior do carro. Tento abordá-la mais uma vez. Lucrécia parece ficar um pouco nervosa e os meus gestos insinuantes são interrompidos por uma carrinha que estaciona justamente à nossa frente, descarregando uma horda de rapazes na calçada. Arrancamos dali para fora e seguimos em baixa velocidade para o centro do Porto. Vou observando Lucrécia e faço-lhe leves carícias no pescoço. A sua expressão indicava que na sua cabeça ocorria uma forte contradição de sentimentos. Não me afastava mas também não me deixava avançar muito mais.
O seu toque de pele era muito agradável. Um toque quente e aveludado que me deixou excitado.
Aproveito a paragem num semáforo vermelho para lhe tentar roubar um beijo. Ela desvia o rosto habilmente e diz que se sente desconfortável pela proximidade dos outros carros. Mais na frente, fazemos nova paragem e faço uma nova investida. Beijo-lhe o pescoço e as orelhas suavemente. Ela contorce o pescoço e solta um gemido sensua. Pedia que eu parasse, que se sentia completamente desorientada.

Era quase meia-noite. Não me adiantava fazer novas investidas. Lucrécia teria que ser uma conquista suave e envolta de muito carinho. Acalmei os meus instintos e prosseguimos a nossa marcha. Às tantas, dá-me a sensação que andamos sem rumo pela cidade. Parecendo adivinhar os meus pensamentos, ela responde-me ternamente que estava a prolongar o momento para aproveitar o momento ao máximo. Bastou esta singela afirmação para que me sentisse confortável.
Estacionámos junto ao Bolhão. Dentro do carro dava quase para sentir a electricidade estática de dois corpos que se desejavam. Novas carícias e mãos insinuantes. A temperatura aumentava ainda mais. Lucrécia embranha-se mais uma vez nos seus pensamentos íntimos. Fiquei com a sensação que desejava mais, que se sentia disposta a entregar-se a mim naquele momento. Estávamos em cima da hora e ainda tinha alguns quilómetros a percorrer até casa. Despedimo-nos ternamente e com a promossa de nos encontrar-mos brevemente.
Voltei para casa e tive dificuldades para adormecer. Era-me completamente impossível ficar indiferente aquela mulher e sinto o desejo de a ter nos meus braços crescer ainda mais.




6 comentários:

LadyM disse...

Delícia de escritor...Está ficando cada vez mais complicado elogiar você...

E estou ficando apaixonada por sua escrita romântica e fluida.

Beijos e muitos parabéns...

M.

Casal do Arrocha disse...

Hummm, uma delícia de ler...
Esse clima de sedução é uma delícia!
Bjs...

Palma da Mão disse...

Cheguei, desta vez não me sentei, aninhei-me junto à janela, para simplesmente ler a delicia do que escreves-te, sente-se o carinho ao longe meu amigo, e dou-te os meus parabéns, não lia uma história assim à muito tempo:)
Beijinhos

goti disse...

Hum.....Ambiente perfeito para o dilúvio de emoções sensuais.
Beijos doces e alegres!!!!

Niina disse...

Um texto assim...fico imposs´vel de ficar cansativo.


Gostei mto!


E agora?


Vai tê-la em seus braços?

torço por isso..
nada melhor que se sentir instigado por alguém e poder ter esse contato.


Independente de qual seja a instiga!

Adorei.

besos!

L. disse...

Que esse encontro tenha sido o aperitivo para um envolvimento daqueles que nos faz arrepiar.
É que a descrição arrepiou...